Uso de Contratos Digitais no Mercado de Imobiliário: O Futuro das Negociações
No setor de imobiliário, o uso de contratos digitais vem ganhando destaque ao proporcionar soluções ágeis e seguras para as negociações. Contudo, essa transição para o ambiente digital também exige atenção quanto à validade jurídica dos instrumentos e aos desafios regulatórios envolvidos
A crescente digitalização das transações imobiliárias tem revolucionado a forma como os contratos são formalizados, trazendo maior eficiência e conveniência para o mercado. No setor de imobiliário, o uso de contratos digitais vem ganhando destaque ao proporcionar soluções ágeis e seguras para as negociações. Contudo, essa transição para o ambiente digital também exige atenção quanto à validade jurídica dos instrumentos e aos desafios regulatórios envolvidos.
A Base Legal das Assinaturas Eletrônicas
A Lei 14.063/2020 representou um marco importante ao regulamentar as assinaturas eletrônicas no Brasil, categorizando-as em três modalidades principais:
Simples: Permite a identificação do signatário, mas com menor nível de segurança, sendo utilizada para atos de menor impacto.
Avançada: Proporciona maior confiabilidade ao vincular a assinatura de forma exclusiva ao signatário, detectando qualquer alteração posterior no documento.
Qualificada: Exige o uso de certificado digital emitido pela ICP-Brasil, oferecendo o mais alto grau de segurança e validade para qualquer ato jurídico.
No contexto das transações imobiliárias, a Lei 14.620/2023 trouxe importantes avanços ao autorizar o uso de assinaturas eletrônicas avançadas e qualificadas em instrumentos particulares com força de escritura pública. A norma também dispensou a exigência de testemunhas para a assinatura de documentos eletrônicos, facilitando e acelerando o reconhecimento de títulos. Além disso, estabeleceu que os documentos eletrônicos apresentados aos serviços de registros públicos devem ser assinados com assinaturas eletrônicas avançadas ou qualificadas. Essa inovação vem sendo um divisor de águas na modernização das negociações no mercado de imobiliário.
Complementando esse cenário, o Provimento nº 180 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), consolidou o arcabouço regulatório para operações digitais, trazendo diretrizes detalhadas sobre o funcionamento dos serviços de registro eletrônico no Brasil.
Esse provimento definiu que o Serviço de Atendimento Eletrônico Compartilhado (SAEC) será a única plataforma autorizada a prestar serviços públicos de registro eletrônico no Brasil para o Registro de Imóveis. Para garantir segurança e padronização, foi instituída a Lista de Serviços Eletrônicos Confiáveis do Registro de Imóveis (LSEC-RI), que estabelece critérios uniformes para as operações digitais e assegura a integridade e a confiabilidade dos serviços.
No que tange ao Registro de Títulos e Documentos e Civil de Pessoas Jurídicas, a plataforma oficial é a Central Registro de Títulos e Documentos e Pessoas Jurídicas do Brasil (RTDPJ Brasil), com adesão obrigatória de todas as serventias. Além disso, todas as trocas de informações entre serventias e entidades serão realizadas exclusivamente por meio dessa central, em conformidade com as normas de privacidade, proteção de dados e sigilo.
Por fim, as serventias de registro civil também foram autorizadas a oferecer serviços relacionados à identificação de cidadãos, mediante a celebração de convênios com entidades públicas e privadas, fortalecendo a integração digital e ampliando as possibilidades de utilização de registros eletrônicos.
Vantagens do Uso de Contratos Digitais
A digitalização dos contratos proporciona um aumento significativo na eficiência, reduzindo o tempo necessário para formalizações ao eliminar deslocamentos e a necessidade de impressões. Além disso, eleva a segurança, uma vez que as assinaturas qualificadas garantem a integridade e a autenticidade dos documentos. No aspecto ambiental, a substituição de processos baseados em papel contribui diretamente para a preservação do meio ambiente, reforçando a sustentabilidade da tecnologia. Por fim, as ferramentas digitais asseguram uma maior transparência, oferecendo rastreabilidade completa dos documentos e tornando todo o processo mais confiável.
Desafios e Cuidados Necessários
Apesar dos avanços, o uso de contratos digitais ainda exige atenção em alguns aspectos. Primeiramente, é essencial garantir que as assinaturas eletrônicas atendam aos requisitos legais, sendo o serviço de validação eletrônica disponível no gov.br uma ferramenta fundamental para verificar essa conformidade.
Além disso, a aplicação da Lei de Registros Públicos (Lei 6.015/73) e das normas complementares do CNJ ainda precisa de mais detalhamento para padronizar o uso de assinaturas eletrônicas de forma uniforme. Por fim, é crucial promover a conscientização entre compradores, empreendedores e cartórios sobre a correta utilização da tecnologia, garantindo que todos os envolvidos compreendam os processos e as exigências legais relacionadas a essa inovação.
Requisitos para Validade
Para garantir a validade jurídica de um contrato digital, é recomendável adotar alguns padrões específicos. A utilização de certificados digitais que sigam as normas da Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira (ICP-Brasil), a fim de assegurar a autenticidade e a integridade do documento, e mais, é importante gerar os documentos no formato PDF/A, que é reconhecido por sua capacidade de preservação a longo prazo e por sua compatibilidade com assinaturas digitais, garantindo que o contrato mantenha sua validade ao longo do tempo.
Esses dois requisitos básicos são fundamentais para a caracterização das assinaturas eletrônicas como avançadas e qualificadas e garantir a validade e integridade do instrumento.
O Futuro das Negociações Imobiliárias
A digitalização no mercado imobiliário é uma tendência irreversível. Os avanços legislativos e tecnológicos oferecem um ecossistema mais ágil, seguro e transparente para todas as partes envolvidas. Entretanto, o sucesso dessa transformação exige esforços coordenados para educar os usuários, harmonizar regulamentações e aprimorar as ferramentas tecnológicas.
Com a adoção de boas práticas, os contratos digitais têm o potencial de redefinir as negociações imobiliárias, tornando-as mais simples, confiáveis e eficientes, estabelecendo um novo padrão no mercado imobiliário.